Animal capturado na capital foi solto no Vale do Araguaia e começou a voltar sentido sul. Centro de Pesquisa diz que felino pode estar tentando retornar de onde foi retirada
Apesar de o ambiente ser propício para se tornar seu novo lar, com matas fechadas e cursos d’água, a onça-pintada do Morro do Mendanha segue rumo a Goiânia. Por meio de monitoramento via GPS é possível observar que o animal ainda não se estabeleceu e vem seguindo sentido sul, já tendo percorrido no mínimo 500 quilômetros (km), conforme Instituto Onça- Pintada (IOP). A distância é mais ou menos a mesma de Goiânia ao ponto onde ela foi liberada no dia 30 de dezembro do ano passado, em Bonópolis. O animal, no entanto, não anda em linha reta.
A volta da onça pode ocorrer pela combinação de dois principais motivos levantados pelo coordenador do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap), órgão ligado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Ronaldo Gonçalves. Um deles é que a onça-pintada pode criar uma relação, uma fidelidade, com a área onde se estabeleceu.
Assim, Gonçalves acredita que pode ser que o animal possa estar tentando voltar para o Morro do Mendanha. “Ela chegou lá naturalmente e se estabeleceu. E ela ficou mais do que a gente imagina até surgirem as primeiras denúncias (janeiro de 2016). Então, teoricamente, ela se sentiu segura ali (Morro do Mendanha)”, disse. Ela chegou ao morro por conta própria, margeando rios e córregos. Já no Vale do Araguaia, ela foi colocada. “Pode ser que ela esteja tentando voltar para Goiânia”, afirmou o coordenador.
O outro motivo, que conforme Gonçalves se combina com o primeiro, é a disputa por território com outros animais da mesma espécie, uma vez que onça-pintada não divide espaços. O analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) de Goiás, Leo Caetano, explica a onça foi solta em uma área que possui mais ocorrências do animal. Assim, pode ser que até o momento ela passou por áreas em que outras onças já estabeleceram território.
Professora da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e integrante da diretoria do Instituto Onça-Pintada (IOP), Natália Mundim afirma que vão existir casos descritos por Gonçalves, quando pode ser que o animal busque a área onde se acostumou a viver. No entanto, a professora afirma que não há informações suficientes para dizer que a prática é comum na espécie. “Não dá para afirmar isso. Não tem uma quantidade de onças monitoradas em que tenha acontecido o mesmo procedimento.”
De acordo com ela, para que seja observado teria que capturar o animal, mudar ele de lugar e fazer o monitoramento. Para a professora, a maior probabilidade é que a onça tenha se deparado com competição ou outras questões e esteja simplesmente buscando um território.
O biólogo Leo Caetano também não acredita na hipótese de que ela esteja voltando para Goiânia. “A gente deslocou ela de carro por 500 quilômetros. Não acredito que ela teria condições de saber onde era”, disse. De acordo com ele, é comum que animais demorem a se estabelecer em outras áreas.
E provavelmente foi assim que a onça do Mendanha chegou a Goiânia, possivelmente vindo da região do Araguaia, norte de Goiás, ou nordeste do Estado. Quando sua presença foi revelada, em fevereiro de 2017, a onça fugiu dos órgãos que tentaram capturá-la por 11 meses. Ela só foi capturada em uma segunda tentativa do IOP, com cães farejadores.
Os primeiros relatos de um morador da região do morro apontam que o animal poderia estar no local pelo menos desde outubro ou novembro de 2016, antes da primeira denúncia.
DISTÂNCIA PERCORRIDA
O jovem adulto com cerca de quatro anos e 83 quilos tem a localização registrada pelo menos duas vezes ao dia. Assim, acredita-se que o felino tenha percorrido muito mais quilômetros do que se pode mapear, como explicou o analista ambiental Leo Caetano.
“Ela andou mais que isso. A informação é subquantificada, porque não tem o trajeto dela inteiro. Tem lá dois pontos. Mas quanto ela andou entre os dois?”, disse Leo Caetano. Em um momento de suas andanças, ela chegou perto de Uruaçu, a menos de 15 km da cidade na região norte do Estado, e depois foi embora.
Uma onça-pintada pode chegar a percorrer 50 km por dia, mas em geral, segundo Caetano, a distância é de cerca de 10 a 20 km diariamente. Se contabilizado 10 km por dia, até ontem a onça do Mendanha já teria percorrido 1.180 km, um pouco mais que a distância de Goiânia a São Paulo.
A professora Natália Mundim pontua que o animal não anda em linha reta, e por isso a onça do Mendanha andou mais do que o registrado. De acordo com Natália, quando o felino está conhecendo uma área, ele vai, volta, faz um padrão circular, reconhecendo a região.
Fonte: O Popular