Em uma pequena capela na Região Metropolitana de Goiânia foliões se reúnem há 30 anos para manter viva a tradição das Folias de Reis. A Igreja dos Santos Reis, localizada em Trindade, na saída para Santa Bárbara de Goiás, é o ponto de encontro dos fiéis que ainda representam a visita dos reis magos ao menino Jesus na semana após o Natal. Neste domingo, conhecido como Dia de Reis, novena e procissão encerram a festa e reúnem as famílias que tentam passar a tradição adiante e manter a chama acesa.
Carlos César de Miranda tem 31 anos e desde bebê acompanha a família. Na última sexta-feira (4), ele saiu em grupo da igreja em Trindade para as visitas às casas com paradas para almoço e jantar servidos pelos festeiros de 2019, os mesmos que ficam responsáveis pelo vestuário. “Passamos pelas casas com as bandeiras. Rezamos, cantamos e pedimos a bênção dos reis. No final da tarde, entregamos sempre a bandeira para o pouso e no dia seguinte retornamos, rezamos o terço e continuamos a caminhada”, explica.
A mãe de Carlos tem 66 anos e ainda é bandeirista. Uma sobrinha toca o pandeiro e Carlos segue cantando. Dois amigos se vestem de palhaços e representando os soldados do rei Herodes, em Jerusalém. Eles espantam os maus espíritos, animam a festa e ajudam a recolher as ofertas. Diferentemente da visita de Jesus, quando Baltazar, Belchior e Gaspar entregaram presentes (ouro, incenso e mirra), nas folias dinheiro é arrecadado e doado a instituições filantrópicas. Em Trindade as doações geralmente são entregues à Vila São Cottolengo, que auxilia no tratamento e abriga pacientes com deficiências múltiplas.
Em 2004, a produtora cultural Graziene da Silva Moreira, de 39 anos, fundou junto com o marido, a Tear Produtos Culturais. A cada dois anos eles realizam o projeto Alvorada, com foco na Folia de Reis e vão além do próprio evento. Eles ensinam crianças e adultos a confeccionar instrumentos como pandeiro e caixa de folia. Em seguida, com aulas de teoria musical, percepção rítmica e percussão, ensinam a tocar. O objetivo é não deixar a cultura morrer.
“Meu avô era capitão de Congada na tradicional Folia da Cidade de Goiás. Na minha família todo mundo participava enquanto ele era vivo, mas depois que morreu a tradição foi se acabando. Hoje, com três filhos: Benjamim (11 anos), João Luiz (10 anos) e Pedro Jeremias (8), vejo a cultura voltando para casa. Dos três, Pedro é o que mais gosta de música. Em um dos cursos que realizamos em 2018, ele foi auxiliar do pai e ajudou a ministrar a oficina”, se orgulha Graziene.
Os cursos de Folia são realizados no Centro Comunitário Imaculada Conceição, no Jardim Novo Mundo e são abertos à comunidade. Com duração de cinco meses, começam após a Folia de Reis, em meados de fevereiro, e terminam com o evento final na Folia do Divino Pai Eterno, em julho. A idade mínima para participar é 8 anos e não há limite máximo.
Trabalho rendeu prêmio nacional
Um dos trabalhos realizados pela Tear Produtos Culturais chegou a render prêmio nacional. Em 2018, Srilis Leonel Mourão, marido de Graziene da Silva Moreira recebeu o Prêmio de Culturas Populares Selma do Coco promovido pelo Ministério da Cultura. A família, incluindo os filhos promoveu oficinas de instrumentos no grupo Quilombo do Levantado, localizado no município de Iaciara, a 400 km de Goiânia.
“Fomos a convite de um membro da comunidade e os ensinamos a confeccionar instrumentos. Apesar de terem ritmos próprios e uma folia diferenciada, não conseguiam produzir os próprios instrumentos. Foi um trabalho mágico e meu filho de 8 anos o Pedro Jeremias ajudou na confecção. É preciso manter estas tradições vivas”, finaliza a produtora cultural Graziene.
Campinas faz festa no último fim de semana de janeiro
Tradicionalmente realizado no último fim de semana de janeiro, o Encontro de Folias de Reis de Goiânia já tem data marcada: 26 e 27 deste mês. A 18ª edição do evento, realizado pela Secretaria Municipal de Cultura de Goiânia em frente ao Santuário Basílica Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (Matriz de Campinas) terá como tema “Os magos e a estrela: sinal de conhecimento e de cuidado com a nossa causa comum”.
No sábado será realizado o 4º Encontro de Catiras das 18 horas às 22 horas. Já no domingo, o encontro está marcado para às 6 horas. Haverá missa na igreja às 7 horas e em seguida, café da manhã para comunidade e foliões. O almoço está marcado às 12 horas e a festa segue até 18 horas.
Fonte: O Popular